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Claro como a água

Um blog para os apaixonados por livros, ou simplesmente para quem procura um livro para ler

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OPINIÃO | Os Da Minha Rua

04.07.16

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Título: Os da minha rua

Autor: Ondjaki

Ano de publicação: 2007

Editora: Caminho

 

Quem nunca leu Ondjaki ou qualquer outro escritor lusófono africano não imagina o que está a perder. Escrevo isto as vezes que forem necessárias até que pelo menos um de vós me diga que experimentou. 

 

Este é o meu quinto livro do autor e já tenho o sexto à espera na estante. Para aqueles que não conhecem o Ondjaki deixem-me que o apresente: 

Ondjaki, ou Ndalu de Almeida, nasceu em Angola em 1977, tem vários livros publicados, ganhou vários prémios, mas melhor do que escrever sobre as suas origens e sobre a sua vida é mostrar-vos o que o torna especial. Ondjaki é aquele escritor que diz que "a poesia não é a chuva, é o barulho da chuva" e que "toda a estrela é luz bonita que nunca soube descansar de alegrar a noite" e diz ainda que "a despedida tem cheiro de amizade cinzenta".

 

Os da minha rua é um livro de memórias de infância, daquela que foi a infância de Ondjaki e daqueles que com ele se cruzaram naqueles tempos em Luanda. O livro acaba por ser um hino à infância, à amizade, à família, à descoberta, aos risos e às gargalhadas. Mas é também um livro que nos ajuda a relativizar as pequenas dificuldades da vida e que nos lembra dos tempos em que sorrir era tão mais fácil. 

 

O livro está organizado em pequenos textos/contos, em cada conto a infância é descrita com recurso à memória de Ondjaki e aos sentidos, principalmente os cheiros e sons. Adoro a forma como o autor nos transporta para um espaço assim tão completo.

 

"O mundo tinha aquele cheiro da terra depois de chover e também o terrível cheiro das despedidas. Não gosto de despedidas porque elas têm esse cheiro de amizades que se transformam em recordações molhadas com bué de lágrimas. Não gosto de despedidas porque elas chegam dentro de mim como se fossem fantasmas mujimbeiros que dizem segredos do futuro que eu nunca pedi a ninguém para vir soprar no meu ouvido de criança."

 

A escrita essa é pura, simples e tão envolvente. Podia achar-se que escrever sobre a infância é por si só suficiente para envolver o leitor, mas parece-me que o sucesso não é garantido. É preciso que a escrita nos aconchegue tal como a infância deve ser aconchegante, infelizmente mais para uns do que para outros, e é preciso que a escrita seja suficientemente eficaz para que o leitor seja transportado à sua própria infância. Adivinhem lá, este livro tem isso tudo e muito mais!

 

"A infância é uma coisa assim bonita: caímos juntos na relva, magoamo-nos um bocadinho, mas sobretudo rimos."

 

Um livro de arrepiar que nos toca no coração, tal como todos os outros livros de Ondjaki tocam.

 

Classificação no Goodreads: 4/5

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