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Claro como a água

Um blog para os apaixonados por livros, ou simplesmente para quem procura um livro para ler

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OPINIÃO | Felicidade

06.11.20

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Título: Felicidade

Autor: João Tordo

Ano de publicação: 2020

Editora: Companhia das Letras

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João Tordo é um dos meus autores "queridos" que nunca me dececionou. "Felicidade" é o mais recente romance do autor e creio que é o quinto livro que leio. Se leem este post e ainda não mergulharam em nenhum dos romances de João Tordo, recomendo vivamente que o façam sob pena de vos estar a escapar uma experiência de leitura muito enriquecedora!

"Felicidade" tem tudo: tragédia, humor e passagens deliciosas. Fiquei ainda mais curiosa relativamente à leitura  após ter lido as primeiras duas páginas. A história começa com a personagem principal, que é também o narrador, em frente à campa de três mulheres - as trigémeas - referindo-se a estas da seguinte forma:

A primeira das trigémeas foi o meu grande amor; a segunda, a minha mulher; a terceira, participante involuntária na minha ruína. Juntas, elas destruíram a minha vida de maneira lenta e insidiosa, como uma matilha de cadelas que rodeia, dia após dia, um passarinho esfomeado, até este jazer morto no chão da sua gaiola. Finalmente, encontram-se saciadas.

Começando pelo contexto, temos uma personagem principal - cujo nome desconhecemos - que sabemos logo na primeira página ter tido uma vida trágica, associando essa ruína às trigémeas Felicidade, Esperança e Angélica. O enredo ocorre maioritariamente nos anos 70, década em que a nossa personagem principal vive a sua adolescência, percorrendo ainda a década de 80, acompanhando a vida adulta dessa personagem.

O mistério envolve toda a trama, quer através de personagens enigmáticas - destaque para as trigémeas e as suas personalidades distintas, mas igualmente enigmáticas - quer pelo suspense em torno da vida arruinada da personagem principal.

A história que o João Tordo relata tem várias características semelhantes a outras das suas obras - e que tanto prezo nos seus livros - em particular, um drama contínuo e um leque de personagens muito bem caracterizadas. Para além disso temos a escrita do autor que, para mim, é do melhor que temos na literatura portuguesa contemporânea.

Compreendi, nessa altura, o fado ou destino dos que vivem atormentados por forças superiores a si próprios. Não têm escolha. Querem, mas não podem. São vítimas desses demónios, são escravos de uma poderosa tirania, a grande devoradora da vontade humana, que se aproveita da nossa fragilidade; tudo o que fazem, no presente e doravante, é consequência dessa assombração.

Uma última nota sobre o impacto que esta leitura teve em mim. Terminei o livro completamente abalada mas maravilhada com a experiência - se é que isto faz sentido para vocês? Foi de tal forma impactante que precisei de reler as últimas páginas para melhor reter o desfecho, mas também as passagens profundas que apareciam a uma velocidade avassaladora.

"Felicidade" é, para mim, uma das obras de referência de João Tordo. Recomendo mesmo!

Classificação no goodreads: 5/5