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Claro como a água

Um blog para os apaixonados por livros, ou simplesmente para quem procura um livro para ler

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OPINIÃO | O Nosso Reino

01.04.18

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 Título: O Nosso Reino

Autor: Valter Hugo Mãe 

Ano de publicação: 2004 

Editora: Porto Editora 

 

O Nosso Reino foi o romance de estreia de Valter Hugo Mãe, o meu sexto livro do autor e, até me dói o coração por ter de escrever isto, o que menos me agradou.

 

O estilo deste romance é semelhante ao de grande parte dos outros romances de Valter Hugo Mãe, quase uma prosa poética com passagens profundas, uma escrita que se tenta aproximar do português falado e uma característica singular no que toca à pontuação. Se este tivesse sido o meu livro de estreia do autor, admito que o estilo atípico ter-me-ia (provavelmente) conquistado e a dispersão da história e falta de um fio condutor não teriam afetado a minha perceção. Talvez nesse caso o balanço tivesse sido positivo. Acontece que quando comecei a ler este livro já tinha uma opinião, inevitável de quem leu quatro livros fantásticos e um bastante bom, e uma expectativa bastante exigente.

 

As temáticas deste O Nosso Reino são a morte (comum a todas as obras do autor) e a religião. A história em si tem potencial. A personagem principal é um menino de oito anos que procura a "perfeição espiritual", é através da sua perspetiva que o leitor obtém um retrato de uma comunidade portuguesa fanática pela religião, característica observada durante o Estado Novo, época em que decorre a ação. Uma outra personagem, talvez a que mais me agradou, é o coveiro, denominado pelo autor como "O Homem mais triste do Mundo".

 

esta noite sonhei com o futuro e pude imaginar todas as coisas manuel. no futuro, daqui a muitos anos, o corpo dos homens vai mirrar porque não vai ser preciso para nada. as pessoas serão seres minúsculos a ocupar um espaço ínfimo e tudo estará preparado para que toda a actividade seja só mental. que importa pôr os pés no chão se tivermos um cérebro tão perfeito que consiga reproduzir essa sensação a cada momento. (...) todas as coisas de que precisarmos estarão já ao nível da nossa vontade, e se algo for mecânico existirão máquinas que se recuperam com o nosso pensamento a executarem o que quer que lhes ordenemos.

 

 

Valter Hugo Mãe é um dos autores, juntamente com Afonso Cruz e Fiódor Dostoiesvki, que quero ler na íntegra. Esta obra foi até ao momento a que menos me agradou, principalmente por sentir que faltava orientação na história, foram vários os momentos em que me senti perdida. Para quem não leu Valter Hugo Mãe, esta poderá não ser a obra ideal para a estreia, se me perguntassem recomendaria sem hesitação A Máquina de Fazer Espanhóis ou A Desumanização, fica a dica.

 

Classificação no Goodreads: 2/5