OPINIÃO | A Elegância do Ouriço
Título: A Elegância do Ouriço
Autor: Muriel Barbery
Ano da primeira publicação: 2006
Editora: Editorial Presença
Andava eu em busca de leituras mais soft quando me deparei com a premissa d' A Elegância do Ouriço, nada mais nada menos do que um prédio num bairro em Paris que emprega uma porteira autodidata e onde habita uma jovem sobre-dotada.
O primeiro terço do livro não foi nada fácil de assimilar, principalmente pela alternância entre narradores e pelos capítulos de divagação, que apareciam sem propósito aparente. Ultrapassada esta dificuldadezinha, A Elegância do Ouriço revelou ser pouco ou nada soft, mas antes uma história encantadora.
Como descrever esse momento de grande alegria? (...) É um fora-do-tempo dentro do tempo... Quando senti pela primeira vez esse abandono delicioso que só é possível a dois? A quietude que sentimos quando estamos sozinhos, essa certeza sobre nós mesmos na serenidade da solidão, não são nada em comparação com o deixar-se levar, deixar-se ir e deixar falar que se vive com o outro, em companhia cúmplice... Quando senti pela primeira vez esse relaxamento feliz em presença de um homem? Hoje, é esta a primeira vez.
Ao longo das páginas do livro somos levados a conhecer a vivência daquele prédio em Paris e o dia-a-dia dos seus moradores ricos e snobs. Inicialmente é nos apresentada Renée, uma mulher de 54 anos, a porteira do prédio. Renée é uma pessoa humilde mas bastante inteligente e auto-didata, carrega consigo, debaixo do braço e em segredo, algumas das maiores obras literárias. Renée revelou-se uma personagem tão interessante de tal forma que me entristece não poder trazê-la do mundo imaginário para o mundo real.
Logo de seguida, conhecemos Paloma, uma jovem de 12 anos, com uma inteligência muito acima da média e que, por conhecer o destino vago que a espera, decide suicidar-se no dia em que completar 13 anos. Renée e Paloma têm em comum uma característica comportamental: ambas tentam esconder a sua inteligência e olhar crítico sobre o mundo que as rodeia.
Como se Renée e Paloma não fossem personagens suficientemente interessantes para deixarem o leitor preso à história, algures a meio do livro o prédio ganha um novo morador, um senhor japonês, também ele riquíssimo, de nome Ozu. É Ozu quem vai mudar o destino de Renée e Paloma.
Já não sei muito bem o que pensar. Por um instante, acreditei que tinha encontrado a minha vocação; acreditei entender que, para me cuidar, precisava de cuidar dos outros, quer dizer, dos outros "cuidáveis", os que podem ser salvos, em vez de ficar às voltas porque não posso salvar os outros. Então, será que deveria ser médica? Ou escritora? É um pouco parecido, não é?
A leitura nem sempre é fluída, a alternância de narradores e contextos dificulta a assimilação dos acontecimentos, Ainda assim, as personagens peculiares e as passagens encantadores fazem valer todos os minutos que passei a ler este livro. Uma leitura não tão soft assim, sobre a beleza e elegância interior, com um final arrebatador. Recomendo!
Classificação no Goodreads: 4/5