A literatura e o feminismo (ou a questão da igualdade de géneros, para os mais sensíveis)
Fe·mi·nis·mo
A mulher guia como um farol as obras de todos os poetas desde o início dos tempos. Se as mulheres não tivessem outra existência que não na ficção escrita pelos homens, na verdade, alguém até poderia pensar que seria uma pessoa da mais alta importância, bastante variada, heróica e desprezível, esplêndida e sórdida, bela e discreta ao máximo, tão grande quanto os homens, alguns diriam até maiores. Mas estas são as mulheres na ficção. Na realidade, como o Professor Trevelyan disse, as mulheres são trancadas, abusadas e atiradas para os cantos dos quartos. Assim se formula um ser bem excêntrico e multifacetado. Teoricamente a mulher exerce a maior importância, na prática a mulher é completamente insignificante. Aparece nas capas dos livro, é tudo, mas é inexistente na história. Manda na vida de reis e conquistadores na ficção, na realidade ela é a escrava do homem com quem foi obrigada a casar. Algumas das palavras mais inspiradas e dos pensamentos mais profundos da literatura saíram dos seus lábios, na vida real ela mal pode ler ou soletrar e é propriedade do marido.
Ensinamos as meninas a sentir vergonha: fecha as pernas, olha o decote. Nós fazemo-las sentir vergonha da condição feminina, elas já nascem culpadas. Elas crescem e transformam-se em mulheres que não podem exprimir os seus desejos. Elas calam-se, não podem dizer o que realmente pensam, fazem do fingimento uma arte.
A mais recente leitura nesta temática foi A Cor Púrpura (1982) de Alice Walker, um romance que se foca principalmente no racismo mas também no machismo e violência contra as mulheres. É um livro bastante pesado e uma leitura difícil de esquecer. Deixo-vos também uma passagem do romance:
Uma rapariga por si mesma não é nada, só quando tem marido é que se torna em qualquer coisa.Torna-se em quê? perguntei.
Ora, disse ela, na mãe dos seus filhos.