Saltar para: Post [1], Comentários [2], Pesquisa e Arquivos [3]

Claro como a água

Um blog para os apaixonados por livros, ou simplesmente para quem procura um livro para ler

Claro como a água

Um blog para os apaixonados por livros, ou simplesmente para quem procura um livro para ler

OPINIÃO | A Boneca de Kokoschka

18.05.16

 WmDev_635991706709602462.jpg

 

Título: A Boneca de Kokoschka

Autor: Afonso Cruz

Ano de publicação: 2010

Editora: Quetzal

 

Afonso Cruz é um dos meus autores de eleição, é sempre com grandes expectativas que entro no seu mundo mágico. A Boneca de Kokoschka foi quase perfeito, digo quase porque não posso/consigo elevá-lo ao patamar de Para onde vão os guarda-chuvas. 

 

Os títulos dos livros do Afonso são qualquer coisa de enigmática. Dos sete livros que li penso que apenas em um deles consegui perceber a relação do título com o conteúdo logo nas primeiras páginas, regra geral só após a primeira metade do livro, ou mesmo já no final, é que conseguimos perceber o que motiva o título. A Boneca de Kokoschka é um título igualmente enigmático já que a história não é de todo sobre bonecas, muito menos sobre o pintor Kokoschka, é sim uma história com várias personagens e onde a ficção se confunde com a realidade.

 

"Em pequena, Adele passava muito tempo sozinha a brincar com bonecas. Tentava dar-lhes vida, vestia-as e levava-as a passear, levava-as à ópera, dava-lhes banho e dormia com elas, provando assim que a ficção, e não o cão, é a melhor amizade do homem."

 

Não vou escrever novamente sobre o fascínio que tenho pelo "mundo" de Afonso Cruz, particularmente pela sua escrita, se quiserem saber mais podem consultar as opiniões que escrevi relativamente a Para onde vão os guarda-chuvas, Jesus Cristo bebia Cerveja e O Pintor debaixo do lava-loiças. Quero apenas referir que, para além de passagens maravilhosas (que dão vontade de guardar para não esquecer), o livro contém ilustrações do próprio autor que são uma delícia!

 

WP_20160517_009.jpg 

 

A Boneca de Kokoschka é tudo o que Afonso Cruz nos habituou: uma prosa poética, com passagens geniais, personagens peculiares, histórias dentro de histórias. O autor apresenta-nos personagens encantadoras, conhecemos um escritor que cria vidas reais através da ficção, um rapaz cuja infância foi uma voz debaixo de uma cave, um homem que vende pássaros em plena Segunda Guerra Mundial e muitas outras igualmente fascinantes.

 

Se há obras que parecem um puzzle, esta é sem dúvida uma delas. As várias histórias e personagens parecem não se relacionar, foram vários os momentos em que me senti confusa com tantas peças soltas. Penso que esse é o principal entrave à fluidez da história. Por outro lado, a ansiedade em querer ver o puzzle completo levou-me a ler o livro num ápice. A conclusão a que chego é que a profundidade que o autor coloca na história e na escrita merecem que o leitor se dedique "de corpo e alma" a esta gigante metáfora que é A Boneca de Kokoschka.

 

 "E aquelas vinte e duas letras era tudo o que era preciso, garantia Isaac, debaixo do soalho. Deus faria o resto. Lá em cima, o que Ele faz é jogar scrabble. As pessoas dão-lhe umas letras, julgam que sabem o que querem, mas não sabem, e Deus com aquelas peças reorganiza tudo e faz novas palavras. Tudo se resume a um jogo de salão. E Deus nem é um grande jogador, como se pode ver pelas bombas que caem lá fora."

 

Afonso Cruz é não só um mestre da escrita, mas também a ponte entre a ficção e a realidade, costumo dizer que a sensação ao ler uma das suas obras é equiparável à sensação que o homem teria se pudesse voar. Temo que Afonso Cruz se torne óbvio e que deixe de me fascinar, enquanto isso não acontecer vou continuar a ansiar pelas suas obras e a recomendá-lo sempre que me perguntarem por um bom livro.

 

Classificação no Goodreads: 5/5

4 comentários

Comentar post