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Claro como a água

Um blog para os apaixonados por livros, ou simplesmente para quem procura um livro para ler

Claro como a água

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Feira do Livro 2017 #3

09.06.17

Nove dias de Feira e ainda só lá fui uma vez, comprei seis livros e não comi nenhuma fartura.

Tenho andado a consultar os livros do dia e parece-me que voltarei à Feira na quarta-feira para comprar a Servidão Humana do Somerset Maugham e O Homem Duplicado do Saramago. 

 

Entretanto reparei que hoje podem comprar vários livros espectaculares (não me recordo de alguma vez ter visto tantos reunidos num só dia) a preços bastante convidativos:

 

AC.PNGFP.PNG

 

LS.PNGPássaros Feridos.PNG

 

Perfume.PNGSaramago.PNG

 

 Boas compras e óptimas leituras!

OPINIÃO | Vinte e Quatro Horas da Vida de Uma Mulher

07.06.17

Vinte e Quatro Horas na Vida de Uma Mulher.jpg 

Tí­tulo: Vinte e Quatro Horas na Vida de Uma Mulher

Autor: Stefan Zweig

Ano da primeira publicação: 1925

Editora: Civilização Editora

 

Este foi o meu primeiro contacto com o trabalho de Stefan Zweig, não por falta de oportunidade, até porque tenho na estante por ler o Coração Impaciente, mas antes por nunca ter considerado que as suas obras fossem prioridade. Este Vinte e Quatro Horas da Vida de Uma Mulher veio alterar os planos e trazer o nome Stefan Zweig para o topo da lista de autores que tenho que ler o quanto antes.

 

Em poucas palavras: Stefan Zweig nasceu na Áustria em 1881, tinha origem judaica, foi romancista, poeta e jornalista, tornou-se pacifista, fugiu do fascismo, esteve exilado em Inglaterra, Nova Iorque e no Brasil. Em 1942, durante a Segunda Guerra Mundial, perdeu a crença na humanidade e, juntamente com a sua mulher, suicidou-se. Deixou uma carta:

 

Antes de deixar a vida por vontade própria e livre, com a mente lúcida, imponho uma última obrigação; dar um carinhoso agradecimento a este maravilhoso país que é o Brasil, que me propiciou, a mim e ao meu trabalho, tão gentil e hospitaleira guarida. A cada dia aprendi a amar este país mais e mais e em parte alguma poderia eu reconstruir a minha vida, agora que o mundo da minha língua está perdido e o meu lar espiritual, a Europa, autodestruído. Depois de 60 anos são necessárias forças incomuns para começar tudo de novo. Aquelas que possuo foram exauridas nestes longos anos de desamparadas peregrinações. Assim, em boa hora e conduta erecta, achei melhor concluir uma vida na qual o labor intelectual foi a mais pura alegria e a liberdade pessoal o mais precioso bem sobre a Terra. Saúdo todos os meus amigos. Que lhes seja dado a ver a aurora desta longa noite. Eu, demasiadamente impaciente, vou-me antes.

 

O percurso do autor pode não ter qualquer influência na reacção do leitor às suas obras, mas para mim teve, foi inevitável. 

 

A história que nos é contada pelo autor, tem como mote um acontecimento considerado um escândalo na época em que se desenrola a acção: a Sra. Henriette foge com um jovem que acabara de conhecer, deixando para trás o marido e os filhos. São nos dadas a conhecer as perspectivas de diferentes pessoas, à medida que vão tendo conhecimento do sucedido. O comportamento da Sra. Henritte é condenado por todos, à excepção da Sra. C., uma dama inglesa de setenta anos. É ela que nos leva numa viagem de vinte e quatro horas ao seu passado, incitando à reflexão acerca dos impulsos, do medo de arriscar, de largar tudo e trocar o que consideramos ser o conforto da nossa vida pela felicidade.

 

Para mim, as características mais fascinantes desta pequena obra são: 1) o retrato psicológico que Stefan Zweig faz das personagens, em particular da mulher; 2) as semelhanças com o estilo de Dostoiesvki, não só na caracterização das personagens, mas também nas cenas que decorrem no casino (lembrei-me várias vezes d' O Jogador) e 3) a escrita tão simples mas tão cativante.

 

Já não existia em mim outra testemunha além da minha própria recordação. Depois fiquei mais tranquila. Envelhecer não é, no fundo, senão perder o medo do passado.

 

Vinte e Quatro Horas da Vida de Uma Mulher é um livro muito pequeno (o exemplar que li tinha cerca de 160 páginas) mas com um conteúdo enoooorme! Não há desculpas para não o lerem.

 

Classificação no Goodreads: 4/5

Feira do Livro 2017 #2

05.06.17

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Na passada sexta-feira, após um dia intenso de trabalho, peguei na lista, num saco resistente para transportar os livros e nas moedinhas do porquinho e lá fui até à feira.

Num final de tarde a confusão é sempre muita, principalmente nos espaços das grandes editores, mas as bancas dos alfarrabistas estavam relativamente calmas, optei por começar por aí. Demorei menos do que 5 minutos até encontrar O Prisioneiro do Céu do Zafón. Embora já o tenha lido, na altura foi-me emprestado, só me faltava este terceiro volume para ter a colecção completa, e assim investi €6 num exemplar em óptimas condições.

Novo inquilino debaixo do braço, continuei a remexer, sem esquecer que procurava em especial a Anna Karenina e um dos dois de Machado de Assis que queria comprar. Encontrei tantos livros fantásticos (que já tinha lido e recomendo) por €3, vários de Saramago, diversos autores russos e outros clássicos por €5, deixei para trás Guerra e Paz do Tolstoi, mas creio que ainda vou lá buscá-la. Anna Karenina nem vê-la, em todas as bancas me disseram que quando aparece algum exemplar é vendido em minutos. E foi assim que esmoreci mais um bocadinho sob pena de nunca vir a conseguir um exemplar desta obra prima.

Continuei o passeio, até chegar à Cavalo de Ferro e vislumbrar o livro do dia: Mistérios de Knut Hamsun. Não me lembro de alguma vez ter ouvido falar do livro mas tinha alguma informação sobre o autor, sabia que era norueguês e que havia ganho um Nobel algures no tempo. Ir à feira sem prevaricar não é a mesma coisa, e assim lá foram mais €9.

Um pouco mais à frente, na Guerra e Paz comprei Dom Casmurro de Machado de Assis, numa edição bem recente mas que ainda assim ficou pelos €11. Mais abaixo, na Cotovia, fui incapaz de não trazer Memórias Póstumas de Brás Cubas, também de Machado de Assis, mais €7 voaram da carteira.

Passei pela Relógio d'Água mas, pela primeira vez, não comprei nada. Ainda fui tentada pelo Nabókov e o seu Riso na Escuridão e por um outro romance do Fitzgerald, mas, não sei como, tomei uma decisão totalmente racional e (ainda) não os trouxe para casa. Lá também avistei a Anna Karenina mas o preço, uma vez mais, não me seduziu.

Continuando, tive que entrar no espaço Leya, não foi fácil, havia pessoas por todo o lado (não que estivessem a oferecer livros, estavam antes a hipnotizar os leitores com as suas "promoções"). Adiante, procurava a colecção dos Livros RTP, trouxe Cem Anos de Solidão de Gabriel Garcia Marquez por €8 e deixei lá As Cidades Invisíveis de Italo Calvino para uma próxima visita, ou talvez para outra ocasião, preciso de pensar sobre o assunto.

Na Europa América encontrei um exemplar de Anna Karenina, não tinha preço marcado, perguntei quanto custava, começou o discurso: "isto é uma óptima oportunidade", blá blá blá, "está com 30%", hmmm não sei se me convences, "se levar três livros oferecemos um, que terá de ser o mais barato, claro", só quero saber o preço, "são só €28". Não fugi logo, desta vez consegui controlar-me melhor, fiz um compasso de espera e só então virei as costas.

Na Presença, ela lá estava, a um preço exorbitante. Por esta altura comecei a sentir que tinham raptado a Karenina e estavam a pedir um resgate...

Continuei a descer o Parque, estava um bocadinho desiludida, prestes a ir para casa mas não sem parar na última (ou primeira, depende da perspectiva) banca, a da Fnac. Foi aí que vi uns livros diferentes, pareceram-me lindos, de capa dura, com as páginas delimitadas a dourado, lombada resistente e tinham a vantagem de ser bastante leves. Vi vários exemplares de livros de Jane Austen e não sei que outros lá estavam porque deixei de ver assim que passei os olhos pelo título Anna Karenina. Peguei-lhe, li a primeira página, estava em inglês, a letra não era demasiado pequena, tinha a vantagem de caber em qualquer mala, não pesar e custar apenas €11. Foi a última compra e a que mais me satisfez.

Deixei pendentes o Guerra e Paz do Tolstoi e O Riso na Escuridão do Nabókov, talvez ainda volte para os ir buscar. Mesmo que não volte, já valeu a pena.

OPINIÃO | Amor de Perdição

04.06.17

Amor de Perdição.jpg

Tí­tulo: Amor de Perdição

Autor: Camilo Castelo Branco

Ano da primeira publicação: 1862

Editora: Alêteia

 

Amor de Perdição, um clássico da literatura portuguesa, há muito que constava da minha lista. Sem saber bem o que esperar, da obra e até mesmo do autor, decidi que estava na altura de ler Camilo Castelo Branco e que deveria começar com a sua maior obra.

 

Antes demais, deixem-me expressar a minha desilusão ao perceber que muitos leitores comparam esta obra a Romeu e Julieta de Shakespeare, obras que na minha opinião são incomparáveis. Amor de Perdição tem, tal como a peça de Shakespeare, um homem e uma mulher que se apaixonam "perdidamente", duas famílias que se detestam, mas não tem mais do que isso. Segundo parece o autor inspirou-se em Romeu e Julieta para escrever Amor de Perdição, mas isso não faz com que esta última seja automaticamente apelidada de genial, ou faz? Poderia voltar a explicar que ninguém pode dizer que conhece a história de Romeu e de Julieta sem ter lido a peça de Shakespeare, mas isso é outra conversa.

 

Portanto, existe a relação entre Simão e Teresa, algo que não considero ser amor mas sim uma paixão profundamente dramática, tal como toda a narrativa, triste sem qualquer esperança. Contrariamente ao que sucedeu com as personagens Romeu e Julieta (de Shakespeare), senti que faltava personalidade a Simão e Teresa, pareceu-me tudo tão impessoal que, a certa altura, já nem queria saber como ia terminar a narrativa.

 

Ultrapassado todo este drama e fatalidade, consegui finalmente apreciar a escrita de Camilo Castelo Branco! Algures no tempo foi-me "imposta" a ideia de que a escrita do Camilo era complicada e exigente, não sendo simples é surpreendentemente fluente e agradável.

 

Dito tudo isto, em jeito de resumo, são 4 estrelas à escrita do Camilo Castelo Branco e 2 estrelas à obra em si. Vou ler, assim que possível A Queda dum Anjo que, segundo me disseram, nada tem a ver com Amor de Perdição. Preciso de confirmar que eu e o Camilo não começámos com o pé direito.

 

Classificação no Goodreads: 3/5

OPINIÃO | Vinte e Quatro Horas da Vida de Uma Mulher

02.06.17

Vinte e Quatro Horas na Vida de Uma Mulher.jpg 

Tí­tulo: Vinte e Quatro Horas na Vida de Uma Mulher

Autor: Stefan Zweig

Ano da primeira publicação: 1925

Editora: Civilização Editora

 

Este foi o meu primeiro contacto com o trabalho de Stefan Zweig, não por falta de oportunidade, até porque tenho na estante por ler o Coração Impaciente, mas antes por nunca ter considerado que as suas obras fossem prioridade. Este Vinte e Quatro Horas da Vida de Uma Mulher veio alterar os planos e trazer o nome Stefan Zweig para o topo da lista de autores que tenho que ler o quanto antes.

 

Em poucas palavras: Stefan Zweig nasceu na Áustria em 1881, tinha origem judaica, foi romancista, poeta e jornalista, tornou-se pacifista, fugiu do fascismo, esteve exilado em Inglaterra, Nova Iorque e no Brasil. Em 1942, durante a Segunda Guerra Mundial, perdeu a crença na humanidade e, juntamente com a sua mulher, suicidou-se. Deixou uma carta:

 

Antes de deixar a vida por vontade própria e livre, com a mente lúcida, imponho uma última obrigação; dar um carinhoso agradecimento a este maravilhoso país que é o Brasil, que me propiciou, a mim e ao meu trabalho, tão gentil e hospitaleira guarida. A cada dia aprendi a amar este país mais e mais e em parte alguma poderia eu reconstruir a minha vida, agora que o mundo da minha língua está perdido e o meu lar espiritual, a Europa, autodestruído. Depois de 60 anos são necessárias forças incomuns para começar tudo de novo. Aquelas que possuo foram exauridas nestes longos anos de desamparadas peregrinações. Assim, em boa hora e conduta erecta, achei melhor concluir uma vida na qual o labor intelectual foi a mais pura alegria e a liberdade pessoal o mais precioso bem sobre a Terra. Saúdo todos os meus amigos. Que lhes seja dado a ver a aurora desta longa noite. Eu, demasiadamente impaciente, vou-me antes.

 

O percurso do autor pode não ter qualquer influência na reacção do leitor às suas obras, mas para mim teve, foi inevitável. 

 

A história que nos é contada pelo autor, tem como mote um acontecimento considerado um escândalo na época em que se desenrola a acção: a Sra. Henriette foge com um jovem que acabara de conhecer, deixando para trás o marido e os filhos. São nos dadas a conhecer as perspectivas de diferentes pessoas, à medida que vão tendo conhecimento do sucedido. O comportamento da Sra. Henritte é condenado por todos, à excepção da Sra. C., uma dama inglesa de setenta anos. É ela que nos leva numa viagem de vinte e quatro horas ao seu passado, incitando à reflexão acerca dos impulsos, do medo de arriscar, de largar tudo e trocar o que consideramos ser o conforto da nossa vida pela felicidade.

 

Para mim, as características mais fascinantes desta pequena obra são: 1) o retrato psicológico que Stefan Zweig faz das personagens, em particular da mulher; 2) as semelhanças com o estilo de Dostoiesvki, não só na caracterização das personagens, mas também nas cenas que decorrem no casino (lembrei-me várias vezes d' O Jogador) e 3) a escrita tão simples mas tão cativante.

 

Já não existia em mim outra testemunha além da minha própria recordação. Depois fiquei mais tranquila. Envelhecer não é, no fundo, senão perder o medo do passado.

 

Vinte e Quatro Horas da Vida de Uma Mulher é um livro muito pequeno (o exemplar que li tinha cerca de 160 páginas) mas com um conteúdo enoooorme! Não há desculpas para não o lerem.

 

Classificação no Goodreads: 4/5

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