Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

Claro como a água

Um blog para os apaixonados por livros, ou simplesmente para quem procura um livro para ler

Claro como a água

Um blog para os apaixonados por livros, ou simplesmente para quem procura um livro para ler

OPINIÃO | Uma Menina Está Perdida no Seu Século à Procura do Pai

30.11.16

6tag_301116-093614.jpg 

 

Título: Uma Menina Está Perdida no Seu Século à Procura do Pai

Autor: Gonçalo M. Tavares

Ano da primeira publicação: 2014

Editora: Porto Editora

 

Nova oportunidade a Gonçalo M. Tavares na expectativa de finalmente fazer parte do grupo de leitores que o apelidam de genial.  

Hanna está sozinha na rua, perdida e em busca do pai. Hanna é uma menina de 14 anos com trissomia 21. Nas mãos traz uma cartolina dactilografada.

Marius está sozinho na rua, foge de algo. Marius sabe que não pode parar.

Os caminhos de Hanna e Marius cruzam-se. A menina sorri e entrega a cartolina a Marius. Pede-lhe ajuda para encontrar o pai. Marius lê as indicações na cartolina e questiona Hanna pela ordem indicada:

 

M: Dizer o primeiro nome

H: Hanna

M: Dizer se é rapaz ou rapariga
H: Rapariga.
M: Dizer o nome completo
H: Não.
M: Dizer o nome dos pais e dos irmãos
H: Não
M: Dizer a morada
H: Não
M: Dizer em que escola anda
H: Não
M: Dizer a idade
H: Catorze.
M: Dizer o dia e o mês de aniversário
H: 12 de outubro.
M: Dizer a cor dos olhos e do cabelo
H: Olhos: pretos. Cabelo: castanho.

 

A história de Hanna e Marius começa a ser construida neste encontro inesperado quando Marius decide ajudar a menina a encontrar o pai. Gostei bastante da personagem Hanna, as restantes não me dizem nada. Quando terminei o livro ocorreu-me um pensamento já familiar e infelizmente previsível: o que é que aconteceu aqui? os ingredientes estavam lá mas isto descambou tudo. Claramente o problema sou eu.

 

É me ainda muito difícil entender o estilo do autor, um livro sem uma estrutura definida dificilmente me convence. Perdi-me várias vezes nas divagações filosóficas do autor e sinto que o próprio autor teve dificuldade em definir o rumo da história (se é que existe um rumo). Apesar de não apreciar o estilo consigo ver algo de extraordinário e invulgar em Gonçalo M. Tavares. Todo o seu discurso é muito cinzento e impessoal, sempre complexo ao ponto de desafiar a lucidez do leitor.

 

Esta foi a última oportunidade que dei a Gonçalo M. Tavares, ainda que tenha sido uma das leituras mais positivas, trouxe-me a certeza de que nunca vou conseguir ligar-me ao autor. Oponho-me a muitas das ideias e opiniões defendidas pelo autor o que leva necessariamente a colocar um travão nesta aventura.

 

Classificação no Goodreads: 2/5

CITAÇÃO | Afonso Cruz

30.11.16

Se Tristan soubesse verbalizar as suas emoções, seria assim: Estou à espera de que a felicidade comece a crescer como os bebés no útero das mãos e que um dia nasça e chore e queira mamar e nós eduquemos a felicidade e a levemos à escola para que saiba ler as letras das nossas veias e fazer contas de multiplicar com a nossa saliva, estou à espera de um beijo daqueles que são dirigidos somente a uma pessoa, e não daqueles que se dão a pensar em alguém que está longe, estou à espera que o dia chegue ao fim e que não comece outro, porque os dias são uma chatice. Mas Tristan não saberia verbalizar as suas emoções, portanto:
- Ia comer primeiro.

 

em Nem Todas As Baleias Voam de Afonso Cruz

Ainda tenho algo a dizer sobre a minha história

28.11.16

Este post deve ser o mais dramático que alguma vez escrevi e o único em que não refiro os livros. Não quero que este blog gire à minha volta, quero que as personagens principais continuem a ser os livros, e por isso o post de hoje é uma excepção que advém da necessidade que sinto em escrever sobre esta fase menos fácil da minha vida.

 

Quando iniciei a minha carreira profissional há 4 anos, estava radiante, motivada, tinha sede de desafios, vontade de trabalhar em equipa e uma ambição que me havia acompanhado até então. Há cerca de três/quatro semanas senti-me frustrada por não conseguir rever-me na Rita de há 4 anos. Tinha perdido parte da motivação e da ambição, não só a nível profissional mas mesmo a nível pessoal. Perdi parte da alegria e boa disposição, tolerância e capacidade de auto-controlo. Ainda que isto não fosse totalmente visível para as pessoas que me rodeiam, sentia-me emocionalmente fragilizada e desgastada.

 

A explicação para esta mudança reside num conceito que creio ser bastante familiar a qualquer adulto:

conformidade

resignação

submissão 

 

Hoje em dia conformamo-nos com tudo ou quase tudo, eu conformei-me com um emprego que não me agrada, um ambiente insustentável onde sou constantemente submetida a uma pressão e violência psicológica que até então era inimaginável. Tudo em prol de uma falsa segurança e estabilidade financeira. Resignei-me a ser medíocre e a viver só porque sim, deixei todo esse medo camuflar a verdadeira Rita.

 

Não é fácil falar deste assunto mas sei que se não o fizer agora que creio estar a recuperar, nunca o vou conseguir fazer, a Rita de há 4 anos não o faria, a Rita emocionalmente fragilizada muito menos.

 

Por ainda não estar desesperada ao ponto de aceitar uma remuneração demasiado baixa nem um estágio profissional, após 8 meses de uma desesperada procura de emprego ainda me encontrava na mesma situação, com uma agravante: por essa altura ir trabalhar e estar 8 horas naquele escritório tinha-se tornado o desafio mais difícil do meu dia. Dei por mim a lamentar-me por achar que não merecia ser tratada assim, as 18h eram um alívio muitas vezes acompanhado por uma estranha vontade de gritar, o meu nível de auto estima estava bem em baixo. Foi por essa altura que aconteceu a primeira, e até hoje única, manifestação física de que algo se passava com a minha saúde mental: tive um mini ataque de pânico. Tinha acabado de chegar ao escritório quando dei por mim sem força nos braços, com a cabeça estranha e as mãos a tremer.

 

Podia ter sido o princípio do fim mas EU DECIDI transformá-lo no princípio da mudança.

 

Não era a violência psicológica a que estava sujeita que me estava a levar para um lado mais negro, também sei que não devo culpar-me pelo que aconteceu e não o faço, culpo antes a passividade. A verdade é que, conformar-me estava a destruir-me e EU NÃO IA DEIXAR isso acontecer.

Nessa mesma semana chamaram-me para a última entrevista de um dos processos de recrutamento em que me encontro. Escrevo este post quando ainda não sei se consegui o tal emprego, pois sei que qualquer que seja a resposta, EU ESCOLHI reagir e construir o desfecho desta história.

A estante ficou bem mais cheia

06.11.16

6tag_051116-122441.jpg

Já vos disse que desde que descobri os leilões de livros no facebook não quero outra coisa. Pois bem, Outubro foi um mês com muitas oportunidades a bons preços. Comprei 5 livros da Agatha Christie por €20, sendo que 2 deles estão como novos e os restante estão em boas condições, apenas Morte na Praia tem uma pequena marca na capa. Comprei também um exemplar novo de A Partir de Uma História Verdadeira de Delphine de Vigan por €8 e um exemplar novo de Crónicas do Mal de Amor de Elena Ferrante por €9, todos os preços incluem portes.

Feitas as contas foram €37 por 7 livros, nada mau 

OPINIÃO | Siddhartha

05.11.16

6tag_051116-122318.jpg 

Título: Siddharta

Autor: Herman Hesse

Ano da primeira publicação: 1922

Editora: Leya

 

Siddharta foi publicado em 1922 por Herman Hesse, a quem foi atribuído o prémio Nobel em 1946 "for his inspired writings which, while growing in boldness and penetration, exemplify the classical humanitarian ideals and high qualities of style".

Tenho para mim que o amor é o que há de mais importante no mundo. Analisar o mundo, explicá-lo, menosprezá-lo, talvez caiba aos grandes pensadores. Mas a mim interessa-me exclusivamente que eu seja capaz de amar o mundo, de não sentir desprezo por ele, de não odiar nem a ele nem a mim mesmo, de contemplar a ele, a mim, a todas as criaturas com amor, admiração e reverência.

 

Verdade seja dita, por saber que abordava temas como a religião e espiritualidade, não tinha grandes expectativas relativamente a esta leitura, e talvez por isso tenha sido positivamente surpreendida.

 

 A acção decorre no século VI d.C. e leva-nos naquela que é uma viagem de auto-descoberta e procura do verdadeiro eu. Se inicialmente o jovem Siddharta, personagem principal, pretende seguir uma doutrina e inicia a procura daquela com que se identifica, quase instantaneamente percebe que mais importante que uma doutrina é o que existe dentro de cada um de nós. É com a evolução da personagem Siddharta que o autor nos leva numa viagem espiritual de descoberta explorando conceitos como o conhecimento, a sabedoria e a paz interior. 

"Mas o que era isso que querias aprender com doutrinas e com mestres e que eles, que tanto te ensinaram, não te podiam ensinar?" E compreendeu: "Era o Eu, cujo sentido e natureza eu queria conhecer. Era o Eu, de que eu queria libertar-me, que eu queria vencer. Mas não fui capaz de o vencer, apenas de o enganar, de fugir dele, esconder-me dele. Na verdade, nada no mundo ocupou tanto os meus pensamentos como este Eu, este enigma, o facto de eu estar vivo, de existir separado e isolado dos outros(...)E sobre nada no mundo sei tão pouco como sobre mim próprio.

 

Siddharta é uma daquelas obras que nos leva a reflectir e a captar pelo menos parte das inúmeras mensagens que encontramos nas entrelinhas deste poema indiano. No entanto, a obra só resulta bem se for lida no espírito certo, isto é, se o leitor conseguir e estiver disposto a colocar-se na no nível emocional de Siddharta.

Embora a sua doutrina seja estranha e as suas palavras pareçam loucas, o seu olhar e a sua mão, a sua pele e o seu cabelo, tudo nele irradia uma pureza, irradia uma paz, irradia uma serenidade e uma doçura e uma santidade como nunca voltei a ver numa pessoa desde a recente morte do nosso sublime mestre.

 

Classificação no Goodreads: 4/5

Pág. 1/2