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Claro como a água

Um blog para os apaixonados por livros, ou simplesmente para quem procura um livro para ler

Claro como a água

Um blog para os apaixonados por livros, ou simplesmente para quem procura um livro para ler

Pensamentos de quem está numa crise literária

27.09.16

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Já vos disse que estou em crise literária? É a terceira vez que acontece, das duas primeiras vezes durou cerca de 2 meses, esta já vai com quase 1 mês.

Por altura em que escrevia este post já tinha percorrido os livros que tenho no kobo, os livros da minha estante e até recorri à internet para encontrar o tal, o livro que iria desbloquear o cérebro e que me traria de volta o prazer que normalmente encontro nos livros. Até chegar a esse post muita coisa me passou pela cabeça:

1 - Porque é que isto me está a acontecer?

2 - O que é que eu fiz para isto me estar a acontecer?

3 - Quanto é que esta crise vai terminar?

4 - Não tenho nada para fazer, estou aborrecida, vou ler um livro! Péssima ideia, agora estou ainda mais aborrecida.

5 - As minhas redes sociais e o blog estão abandonados

6 - Mas como é que deixei de conseguir ler de um momento para o outro?!

7 - Aqueles livros na estante estão todos a olhar para mim

8 - Quanto é que esta crise vai terminar? Tenho tantos livros para ler...

9 - Mas porque é que eu fui reler aquele livro?!

10 - Ok, vamos lá ler umas páginas. Resultado: pego no telemóvel a cada duas linhas, volto ao livro, leio as mesmas duas linhas, pego no telemóvel

11 - Quando é que este inferno vai terminar? Era tão feliz quando lia.

12 - Preciso de ajuda, rápido!

 

Enquanto o desespero continuava a aumentar, eu tentava de tudo para parar isto, consultava blogs literários, recorria ao goodreads e às livrarias, à espera de uma reacção. Qualquer coisa diferente de apatia já seria bom.  

 

Depois percebi que não podia continuar esta luta, esta crise literária não iria passar só porque eu insistia em ler. Depois do sentimento de culpa, desespero e tristeza percebi que tinha de me conformar com a situação e decidia que iria "abraçar" esta crise nojenta. Mais depressa do que conseguia prever, dei por mim a pensar que estava numa crise literária mas que isso não tinha mal nenhum, estava tudo bem!

 

Não quero que isto vos parece mal, a verdade é que sinto realmente falta dos livros, de me perder nas suas páginas, sinto falta de perder a noção do tempo, do espaço e da realidade enquanto leio um livro. Por estes dias tenho pensado bastante nos meus livros preferidos, naquelas personagens marcantes que guardamos em nós, poderá parecer um pouco lunático mas creio que uma destas noites até sonhei com livros. Acho é que a diferença entre esta crise e as primeiras por que passei é a minha postura, percebi que tinha de aproveitar e divertir-me de outra(s) forma(s) enquanto não conseguisse voltar aos livros. Não quis saber dos livros que tenho por ler na estante, mesmo que os sinta a olhar para mim todos os dias, não me preocupei quando saí de casa sem levar um livro na mala, não me importei de me afastar dos livros. Substituí os livros por música, por minesweeper no telemóvel e uns episódios de uma série qualquer que passava na televisão, voltei a andar de bicicleta e estava novamente em paz. 

 

Não deixei que o blog, o goodreads nem mesmo os livros que tenho na estante me pressionassem, não me culpei por nada. A certa altura esta "ausência" fez-me desejar voltar a ler, fez-me encontrar o caminho de volta aos livros. Posto isto, sim, posso dizer que estou a começar a sentir entusiasmo quando olho para um livro, hoje mesmo já trouxe um livro na mala e já li algumas páginas. Não, ainda não consegui interessar-me por nenhum dos livros que anda a fazer furor no momento, mas creio que isso já era um pouco assim. Depois deste mega post, já consigo responder-vos à questão o que fazer para sair de uma crise literária?, a resposta é até bastante simples: não fazer nada, temos de nos resignar e sossegar, aproveitar a crise para fazer outras coisas, desta forma até pode ser que passe mais rápido, pelo menos comigo está a ser assim, vamos ver até onde isto me vai levar...

OPINIÃO | Gramática do Medo (em poucas palavras)

27.09.16

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Título: Gramática do Medo

Autor: Maria Manuel Viana, Patrícia Reis

Ano de publicação: 2016

Editora: Dom Quixote 

 

Há de tudo neste mundo dos livros, aqueles para devorar, os que se lêem devagar, os que nos fazem chorar, rir, pensar ou que nos levam a reflectir. Depois há a Gramática do Medo que é um estilo indefinido que proporciona ao leitor arrepios pelo corpo todo!

Sabe-se que um livro não é lido de forma igual por dois leitores mas este consegue originar um turbilhão de reacções totalmente distintas. Para mim foi particularmente marcante pela forma como aborda a procura/necessidade de mudança e o auto-conhecimento.

 

A escrita é do melhor que a literatura portuguesa contemporânea tem para oferecer. Nunca tinha lido nada de nenhuma das autoras, mas já me tinha sido sugerido e confesso que foi uma agradável surpresa.

 

As personagens principais são Sara e Mariana, duas amigas, fisicamente parecidas, que se confundem passando uma pela outra. Para além da aparência física têm em comum um curso de teatro, muitos amigos, um percurso de vida (ainda que em classes sociais distintas) e um sentimento: o medo.

Para compreender o Ser, não são só as palavras que faltam, mas sobretudo a «gramática». Só que o elemento primordial, o que aqui está em causa, não é tanto o ser e a sua essência, o ente e a existência, a radicalidade da questão ontológica, o jogo de linguagem, mas a palavra fundamental, medo, o medo que tudo sobre, porque ela sabe que no princípio está o medo e no fim, quem poderá sabê-lo?, talvez ainda e sempre o medo. Por isso, Gramática do medo. Tem quatro designações possíveis, embora saiba que só uma se adequa a partir daqui, Sara saberá o que fazer.

Se recomendo? Sim, sem qualquer dúvida e arrependimento 

 

Classificação no Goodreads: 4/5

Alguma vez ficaram presos a um livro?

21.09.16

Visto aqui.

Já me aconteceu várias vezes mas nunca bateu tão forte como desta vez.

Bem vistas as coisas, já andava a sentir a ameaça desde meados de Agosto, creio que pela altura em que lia Pássaros Feridos, mas só há duas semanas a coisa piorou, quando reli A Sombra do Vento. Desde então falta-me a vontade, o ânimo e o interesse. Mas não na vida, não me falta vontade de viver nem o ânimo para me levantar da cama (por favor não me internem!), isso só acontece com os livros. 

 

Tenho lido alguns mas a um ritmo mais lento porque só leio quando me apetece realmente. Li Turismo para Cegos de Tércia Montenegro (2*), Gramática do Medo de Maria Manuel Viana (3*) e Patrícia Reis e A Morte de Ivan Ilitch de Tolstoy (4*). Não tenho tido vontade de escrever sobre eles.

 

Estou a meio de Se o Passado Não Tivesses Asas de Pepetela, é bom mas vou ter de deixá-lo de lado até voltar ao normal, conhecem a frase "o problema não é o livro, sou eu"? Pois, é isso.

Comecei ontem a ler o livro de contos Uma Dor Tão Desigual, acho que o Afonso Cruz me trouxe um bocadinho da vontade de volta e a Dulce Maria Cardoso também está a ajudar. Talvez a solução seja ler um bom livro, daqueles mesmo bons, cheguei a pensar em reler o Para Onde Vão os Guarda-chuvas, mas depois pensei que podia dar-se o oposto do esperado: sair de um livro para ficar presa ao outro.

 

Façam figas comigo para que isto não dure muito mais tempo, não gosto desta Rita, prefiro a outra mesmo que seja mais maluquinha e obcecada por livros, pelo menos é mais feliz.

Afinal não é só sensibilidade e empatia

15.09.16

 

 

Being a Highly Sensitive Person (HSP) is a lot more complicated than people think.:

imagem vista aqui 

 

Já sabia que sensibilidade e empatia é comigo, tenho o dom de originar um brilhozinho nos olhos por tudo e por nada. Como eu haverá muita gente e isso não me surpreende, o que desconhecia e me está a fazer muita confusão é que as pessoas mais sensíveis têm muito mais em comum do que lágrimas e lenços de papel!

 

Segundo um artigo que li aqui, parece que são vários os aspectos e atitudes que as pessoas mais sensíveis não entendem/toleram. Ei-los:

 

1. Conter as emoções é algo que não faz sentido.

Para além de que é bastante complicado. Não interessa se estão felizes, tristes, nervosos ou ansiosos, se for demasiada emoção então é certo que acaba em choro, é incontrolável.

 

2. Produzir um som irritante tira-os do sério.

Como por exemplo, bater com a caneta, estalar os ossos, fazer barulho ao engolir.

 

3. Má educação é intolerável.

Pessoas mais sensíveis têm tendência a reparar em pequenas faltas de educação, como por exemplo bocejar e fazer barulho ou um espreguiçar ruidoso.

 

4. Filmes de terror não são nada divertidos.

Leva-os ao desespero.

 

5. Críticas construtivas, ainda que possam ser bastante lógicas, causam demasiado stress. 

Mas não são necessariamente ignoradas.

 

6. Tomar decisões pode tornar-se bastante difícil.

Não interessa se é para escolher o que comer ou que casa comprar. Na minha cabeça antevejo dezenas de cenários caóticos qualquer que seja o caminho a seguir.

 

7. Aulas em grupo não são muito apreciadas.

 

 

Estranhamente identifico-me com esta lista, excepto com o último ponto. Não percebo nada de psicologia e talvez por isso ache este artigo demasiado assustador. Será esta relação assim tão óbvia?

 

Sei que vários leitores acusam a sensibilidade e empatia de que falei, também me apercebi de que as pessoas sensíveis que conheço gostam de ler, mas será que se identificam com estes pontos? Se sim, e por dedução lógica, podemos acrescentar o ponto 8 - Não entendem como é que alguém pode não gostar de ler. O que vos parece?

RELEITURA | A Sombra do Vento

13.09.16

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- Pois bem,esta é uma história de livros.

- De livros?

- De livros malditos, do homem que os escreveu, de uma personagem que se escapou das páginas de um romance para o queimar, de uma traição e de uma amizade perdida. É uma história de amor, de ódio e dos sonhos que vivem na sombra do vento.

 

Passaram mais de dez anos desde que li pela primeira vez A Sombra do Vento de Carlos Ruiz Zafón. Com a divulgação do lançamento do quarto volume da série O Cemitério dos Livros Esquecidos emergiu em mim uma vontade imensa de reler os três volumes já publicados: A Sombra do Vento, O Jogo do Anjo e O Prisioneiro do Céu. 

 

Aproveitei as férias para pegar no primeiro volume, escusado será dizer que devorei as 500 páginas em poucos dias. A Sombra do Vento é um dos meus livros preferidos, é mágico, viciante e absorve-nos completamente.

 

Este lugar [o Cemitério dos Livros Esquecidos] é um mistério, Daniel, um santuário. Cada volume que vês, tem alma. A alma de quem o escreveu e a alma dos que o leram e viveram e sonharam com ele. Cada vez que um livro muda de mãos, cada vez que alguém desliza o olhar pelas suas páginas, o seu espírito cresce e torna-se mais forte. Há já muitos anos, quando o meu pai me trouxe pela primeira vez aqui, este lugar já era velho. Talvez tão velho como a própria cidade. Ninguém sabe de ciência certa desde quando existe, ou quem o criou. Dir-te-ei o que o meu pai me disse a mim. Quando uma biblioteca desaparece, quando uma livraria fecha as suas portas, quando um livro se perde no esquecimento, os que conhecemos este lugar, os guardiões, asseguramo-nos de que chegue aqui. Neste lugar, os livros de que já ninguém se lembra, os livros que se perderam no tempo, vivem para sempre, esperando chegar um dia ás mãos de um novo leitor, de um novo espírito. Na loja nós vendemo-los e compramo-los, mas na realidade os livros não têm dono. Cada livro que aqui vês foi o melhor amigo de alguém. Agora só nos têm a nós, Daniel.

 

Esta releitura trouxe-me muitas surpresas, para além de não me recordar de muitos pormenores e surpreender-me como se estivesse a ler o livro pela primeira vez, a sensibilidade e percepção que tenho hoje não são comparáveis às de há dez anos. 

 

É inevitável apaixonar-mos por esta Barcelona misteriosa e pelo universo de livros daquele "cemitério", como também me parece pouco provável que alguém fique indiferente a estas personagens. Têm dúvida? Não há melhor do que experimentar.

 

Criei-me entre livros, fazendo amigos invisíveis em páginas que se desfaziam em pó e cujo cheiro ainda conservo nas mãos. 

 

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