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Claro como a água

Um blog para os apaixonados por livros, ou simplesmente para quem procura um livro para ler

Claro como a água

Um blog para os apaixonados por livros, ou simplesmente para quem procura um livro para ler

CITAÇÃO | Fernando Pessoa

17.06.16

Mais vale a sombra de uma árvore do que o conhecimento da verdade, porque a sombra da árvore é verdadeira enquanto dura, e o conhecimento da verdade é falso no próprio conhecimento. Mais vale, para um justo entendimento, o verdor das folhas que um grande pensamento, pois o verdor das folhas, podeis mostrá-lo aos outros, e nunca podereis mostrar aos outros um grande pensamento. Nascemos sem saber falar e morremos sem ter sabido dizer. Passamos a vida entre o silêncio de quem está calado e o silêncio de quem não foi entendido, e em torno disto, como uma abelha em torno de onde não há flores, paira incógnito um inútil destino.

 

em O Banqueiro Anarquista e Outros Contos Filosóficos de Fernando Pessoa

PASSATEMPO | Os Quatro Ventos

17.06.16

 

Os Quatro Ventos

 

Como gostei muito do livro Os Quatro Ventos do autor Diogo Dantas, decidi juntamente com a Chiado Editora oferecer um exemplar a um dos leitores do blog. Aqui fica a sinopse:

 

João e Sofia encontram-se no primeiro dia de aulas. Durante os próximos quarenta anos, vai acontecer muita coisa, desde o drama ao romance, com humor e polémica. Em quatro etapas diferentes, tantas quantas os ventos gregos, com as suas personalidades e idiossincrasias, vamos conhecer a relação entre os dois, envolver-nos com a sua paixão e as suas contradições. Primeiro ele não gosta dela, depois é ela que não gosta dele, depois ambos gostam um do outro, depois vem a vida e separa-os. Não deixam ninguém indiferente à sua passagem, nem os pais, nem os amigos, nem os professores e, quanto mais o tempo passa, mais desafios vão ter de enfrentar.

 

Para participarem só têm que preencher o formulário em baixo. Cada pessoa só pode participar uma vez, se forem seguidores do blog no facebook ganham uma participação extra.

 

 

O passatempo terminará no dia 8 de Julho. Assim que for seleccionado o vencedor, a editora enviará o livro, sendo que nem a editora nem o blog se responsabilizam por possíveis extravios.

 

Obrigada e boa sorte!

OPINIÃO | O Jogador

17.06.16

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 Título: O Jogador

Autor: Fiódor Dostoiévski

Ano da primeira publicação: 1866

Editora: Editorial Presença

 

Foi o meu primeiro contacto com o escritor russo Fiódor Dostoiévski e não poderia estar mais satisfeita. Fiquei de tal forma impressionada com esta leitura que sinto que tudo o que possa escrever nunca fará jus à experiência que foi ler O Jogador.

 

Se há facto incontestável é que este homem é um mestre da escrita! As personagens de Dostoiévski vivem no nosso mundo, conseguimos perfeitamente perceber os sentimentos que as movem e conseguimos até viver os seus momentos de frustração e euforia. Pelo que percebi da pesquisa que fiz sobre o autor, euforia, loucura, angústia, depressão e suicídio são temas recorrentes nas suas obras. O autor chega mesmo a explorar a autodestruição e humilhação do ser humano, sempre com algum humor e ironia à mistura e sempre de uma forma fantástica. O fascínio por estas temáticas resulta (muito provavelmente) da sobreposição entre a vida e a obra de Dostoiévski, mas sobre isso escreverei num outro dia.

 

"Agora, perguntava-me de novo: amo-a? Ou melhor, respondi-me novamente, pela centésima vez, que a detestava. Sim, odiava-a! Havia momentos (sobretudo depois das nossas conversas) em que teria dado metade da minha vida para estrangula-la! Juro-o. Se tivesse sido possível, ainda há momentos, cravar-lhe no peito um punhal bem afiado, julgo que o teria empenhado de boa vontade."

 

Nesta história o tema principal é o jogo, fora e dentro das paredes de um casino na Alemanha. O autor apresenta-nos o protagonista Alexéi Ivanivich, um jovem de vinte e quatro anos, preceptor de profissão e jogador por excelência. Alexéi é apaixonado (leia-se, obcecado) por Polina, que o humilha e despreza constantemente, e desenvolve um fascínio pelo jogo a dinheiro, principalmente pela roleta russa. É também aqui que a vida e a obra de Dostoiévski se cruzam, pois também o autor era viciado no jogo.

 

Correndo o risco de me repetir, o que mais me marcou foi a escrita emotiva do autor, a velocidade com que passa da euforia para a depressão, a forma como descreve as motivações das personagens e por fim a descrição da febre do jogo.

 

"Experimentava uma espécie de febre, e joguei todo aquele monte de dinheiro no vermelho – quando de repente, recuperei a consciência! Foi a única vez, durante toda a noite, que o medo me gelou, manifestando-se por um tremor das mãos e dos pés. Senti com horror e tomei consciência instantaneamente do que significaria para mim, naquele instante, perder! Era toda a minha vida que estava em jogo!"

 

Um facto curioso acerca deste livro é que foi escrito em simultâneo com Crime e Castigo. Por estar muito ocupado, Dostoiévski contratou uma assistente, Anna Grigórievna Snítkina, com quem acabou por casar. Mais curioso ainda é que o autor acabou por perder tudo o que o casal tinha graças ao seu vício no jogo.

 

Tenho de referir o trabalho irrepreensível dos tradutores Nina Guerra e Filipe Guerra, para além da tradução e revisão da obra, fizeram um óptimo trabalho com a informação "extra" das notas de rodapé.

 

Sei de muitos leitores que não conseguiram terminar a leitura das obras mais conceituadas do autor, como é o caso de Crime e Castigo e de Os Irmãos Karamázov, por serem obras mais pesadas e longas, e por isso achei por bem começar por uma obra mais leve. Se nunca leram Dostoiévski, aconselho que não se aventurem logo nos calhamaços, comecem por obras mais "fáceis" como por exemplo O Jogador ou Noites Brancas. Eu já estou em pulgas para ler Crime e Castigo, ainda mais por já o ter na estante, não sei se estou preparada mas motivação e vontade tenho (e muita!), já é qualquer coisa.

 

Classificação no Goodreads: 4/5