Título: O Jogador
Autor: Fiódor Dostoiévski
Ano da primeira publicação: 1866
Editora: Editorial Presença
Foi o meu primeiro contacto com o escritor russo Fiódor Dostoiévski e não poderia estar mais satisfeita. Fiquei de tal forma impressionada com esta leitura que sinto que tudo o que possa escrever nunca fará jus à experiência que foi ler O Jogador.
Se há facto incontestável é que este homem é um mestre da escrita! As personagens de Dostoiévski vivem no nosso mundo, conseguimos perfeitamente perceber os sentimentos que as movem e conseguimos até viver os seus momentos de frustração e euforia. Pelo que percebi da pesquisa que fiz sobre o autor, euforia, loucura, angústia, depressão e suicídio são temas recorrentes nas suas obras. O autor chega mesmo a explorar a autodestruição e humilhação do ser humano, sempre com algum humor e ironia à mistura e sempre de uma forma fantástica. O fascínio por estas temáticas resulta (muito provavelmente) da sobreposição entre a vida e a obra de Dostoiévski, mas sobre isso escreverei num outro dia.
"Agora, perguntava-me de novo: amo-a? Ou melhor, respondi-me novamente, pela centésima vez, que a detestava. Sim, odiava-a! Havia momentos (sobretudo depois das nossas conversas) em que teria dado metade da minha vida para estrangula-la! Juro-o. Se tivesse sido possível, ainda há momentos, cravar-lhe no peito um punhal bem afiado, julgo que o teria empenhado de boa vontade."
Nesta história o tema principal é o jogo, fora e dentro das paredes de um casino na Alemanha. O autor apresenta-nos o protagonista Alexéi Ivanivich, um jovem de vinte e quatro anos, preceptor de profissão e jogador por excelência. Alexéi é apaixonado (leia-se, obcecado) por Polina, que o humilha e despreza constantemente, e desenvolve um fascínio pelo jogo a dinheiro, principalmente pela roleta russa. É também aqui que a vida e a obra de Dostoiévski se cruzam, pois também o autor era viciado no jogo.
Correndo o risco de me repetir, o que mais me marcou foi a escrita emotiva do autor, a velocidade com que passa da euforia para a depressão, a forma como descreve as motivações das personagens e por fim a descrição da febre do jogo.
"Experimentava uma espécie de febre, e joguei todo aquele monte de dinheiro no vermelho – quando de repente, recuperei a consciência! Foi a única vez, durante toda a noite, que o medo me gelou, manifestando-se por um tremor das mãos e dos pés. Senti com horror e tomei consciência instantaneamente do que significaria para mim, naquele instante, perder! Era toda a minha vida que estava em jogo!"
Um facto curioso acerca deste livro é que foi escrito em simultâneo com Crime e Castigo. Por estar muito ocupado, Dostoiévski contratou uma assistente, Anna Grigórievna Snítkina, com quem acabou por casar. Mais curioso ainda é que o autor acabou por perder tudo o que o casal tinha graças ao seu vício no jogo.
Tenho de referir o trabalho irrepreensível dos tradutores Nina Guerra e Filipe Guerra, para além da tradução e revisão da obra, fizeram um óptimo trabalho com a informação "extra" das notas de rodapé.
Sei de muitos leitores que não conseguiram terminar a leitura das obras mais conceituadas do autor, como é o caso de Crime e Castigo e de Os Irmãos Karamázov, por serem obras mais pesadas e longas, e por isso achei por bem começar por uma obra mais leve. Se nunca leram Dostoiévski, aconselho que não se aventurem logo nos calhamaços, comecem por obras mais "fáceis" como por exemplo O Jogador ou Noites Brancas. Eu já estou em pulgas para ler Crime e Castigo, ainda mais por já o ter na estante, não sei se estou preparada mas motivação e vontade tenho (e muita!), já é qualquer coisa.
Classificação no Goodreads: 4/5